Soldado Estrangeiro (2020) de José Joffily e Pedro Rossi
Soldado Estrangeiro marca novamente a parceria dos diretores José Joffily e Pedro Rossi em um documentário sobre brasileiros no exterior. O longa tem como premissa a história de três brasileiros em diferentes estágios de uma mesma escolha: o de servir um grande exército de uma nação estrangeira.
Primeiro personagem é Bruno Silva, carioca da periferia que deixa tudo para trás para tentar, mesmo sem saber falar o idioma francês, servir no exército da Legião Estrangeira. O segundo, Mario Wasser, jovem de classe média paulistana, já em serviço ao exército Israelense em uma base militar na Cisjordânia. Adaptado a função e usufruindo dos benefícios que o exército oferece, vive a constante tensão da região. O Terceiro é veterano Felipe Nascimento, ex fuzileiro naval americano que atuou na guerra do Afeganistão e hoje vive em Nova York, onde busca seus direitos como ex combatente, enquanto luta contra as cicatrizes deixadas pela guerra.
Mesmo se tratando de três realidades distintas, cada personagem tem mais semelhanças do que se imagina. A criação de um propósito de vida, alinhada com uma chance de fazer a diferença para si e para suas famílias unem suas histórias. Cada ato conta a história de um personagem, assim a montagem consegue construir de forma coesa e contínua uma narrativa da trajetória dos protagonistas: Um antes, durante e depois da vida de um soldado.
Cada ato é aberto com a citação do livro “Jonny vai à Guerra”, de Dalton Trumbo. Os diretores tem como intenção criar uma narrativa antibelicista ao filmar um pequeno estudo de personagens de um recorte da vida dos seus protagonistas. A câmera segue-os sempre de perto e de forma quase que íntima somos convidados a conviver com eles no dia-a-dia. Vemos como eles foram seduzidos para participar de outros exércitos e seus pensamentos quanto ao presente e futuro.
No começo, conhecemos Bruno e sua realidade. Seu grande proposito é poder ajudar financeiramente a vida de sua família. “Aqui tem terrorismo todo dia”, diz Bruno perguntado se tem medo do que pode viver lá fora. Personagem mais próximo em paralelo a grande parte da população brasileira e seu sonho de crescer na vida.
Na história de Mário, sentimos a tensão de estar na guerra junto à ele. Temos imagens de seu capacete em primeira pessoa, e assim vemos algumas ações de seu trabalho no exército israelense. Ele está cômodo do seu exercício, e tem mais benefícios que os cidadãos do próprio país pelo qual luta. Porém, não questiona (e nem pode questionar) o que enfrenta diariamente.
Mas, é na história de Felipe, que mora a grande bússola moral da proposta anti-bélica dos diretores. A história do ex-combatente expõe não apenas as marcas físicas, mas psicológicas e sociais que a guerra causa. Sedução que foi no passado, em se tornar alguém na vida, se diluem nos seus traumas.
Soldado Estrangeiro é um retrato honesto e verdadeiro da guerra e porque somos seduzidos a deixar nosso país e lutar uma guerra que não é nossa. O antes, durante e depois da vida de combatente. Da sedução ao trauma. Que pancada.