O Ditador (The Dictator, 2012) de Larry Charles
Um Louco Muito Inteligente
Sacha Baron Cohen é um louco. Mas um louco muito inteligente. Venceu o Globo de Ouro (melhor ator comédia ou musical) e foi indicado ao Oscar (melhor roteiro original) com Borat (2006). Um falso documentário, o qual o denominado segundo melhor repórter do Cazaquistão Borat Sagdiyev viaja pelos EUA para aprender e expor a cultura americana, mas acaba demonstrando todas as facetas preconceituosas, arrogantes e racistas que os americanos não conseguem se desvencilhar. Ninguém é poupado. Judeus, negros, homossexuais, políticos, religiosos, feministas, machistas… Não fica americano sobre americano. Já em Brüno (2008) seu protagonista “real” inventado para a obra é um austríaco repórter gay que adora comentar sobre a moda e o mundo das celebridades e mais uma vez brinca com a verdade alheia para fazer o mundo rir. Funcionou bem menos, em todos os sentidos.
Agora temos O Ditador (The Dictator, 2012) de Larry Charles, que se coloca como um meio termo em resultados artísticos, ao continuar a promover um festival de barbaridades. Desta feita, uma comédia totalmente de mentirinha… E muito, mas muito engraçada. Sim, seu protagonista é o preconceito em forma de gente. Mas, e daí? A comédia é assumidamente isso.
O nome do seu protagonista, Aladeem (alguém aí pensou em Disney?) já é uma piada pronta. E a forma de ditar as leis, normas e população de Wadiya (no Oriente Médio) são uma extensão disso. Como a criação das Olimpíadas de Wadiya (que ele ganhou 14 medalhas de ouro!) e do Globo de Ouro local (que ele venceu por quatro vezes!), ou seu discurso em que o próprio não consegue parar de rir e a vontade de ter a sua própria bomba atômica (“todos os meus amigos têm armas nucleares”).
Cohen é o centro das atenções, claro, e consegue levar sua história simples, esquemática e por vezes boba, numa toada equilibrada de muitas piadas por situação e até um fundo de pobre menino rico de Aladeen. Diretor Larry Charles, parceiro habitual de Cohen (o mesmo de Borat), aponta sua lente para o que deve ser mostrado. Conduz (ou tenta) conduzir seus exageros de forma simples, e não teria nem como ser diferente, pois seu roteiro é completamente convencional ao usar o mote da troca de papéis + um peixe fora d´agua.
Situações como expor Megan Fox (rindo de si mesmo) como uma prostituta hollywoodiana de luxo (“não posso ficar a noite abraçada com você, tenho hora marcada com o 1º. Ministro da Itália”) e exibir o mural de noites compradas. Tem mais, é importante notar o cuidado de esculhambar até as músicas mais babas dos EUA, sempre adaptadas para o árabe, detonar os clientes no mercadinho, um restaurante só com odiadores de Aladeen, e claro, a cereja do bolo: o diálogo-piada no helicóptero que faz alusão ao 11 de setembro.
De exagero tem um monte, como o parto natural (“tenho uma péssima notícia para dar, é uma menina”) e as mãos dadas (internamente), a repetida piada do sovaco peludo, a aula de masturbação e o excesso de peso atenuado de forma, digamos, natural. Mas passa. Há ainda boas participações (o tio Ben Kingsley, a verde Anna Faris, o segurança John C. Reilly, e o próprio Edward Norton) e até seu discurso final funciona.
Digno de risadas violentas (“Crocs é o símbolo de alguém que desistiu de ter esperança”), O Ditador é dedicado à “memória do querido ditador Kim Jong-il”. Sara Baron Coen, você é muito bom.