Uma Batalha Após a Outra (One Battle After Another, 2025) de Paul Thomas Anderson
A potência política de Uma Batalha Após a Outra está em sua sátira do estado atual dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, ao abordar temas como autoritarismo, polarização, crise de imigração (e perseguição de imigrantes), supremacia branca e teorias da conspiração de forma contundente.
A trama tem origem literária — inspirada no romance Vineland, de Thomas Pynchon (autor também de Vício Inerente, 2014, previamente adaptado por Anderson), publicado em 1990, mas que se passa originalmente em 1984 — o roteiro foi reconfigurado pelo próprio diretor, e estabelece conexões diretas com o clima sociopolítico atual, um grande acerto, por sinal.
Sua força discursiva parte desse romance sobre um coletivo insurgente dos anos 1960, e traça paralelos entre ciclos históricos de repressão e insurgência, transpondo-os para um cenário atual, a tornando ainda mais pungente. Há ação, drama, grandes sequências de ação e perseguição, além de um subtexto irônico, capaz de exibir bons sorrisos no rosto do expectador.
O fio da meada é calcado na crítica social e política e política contundente, e ao abordar temas delicados como o neofascismo, o ressurgimento de grupos supremacistas, a desinformação em massa e o colapso humanitário nas fronteiras, o filme se posiciona como um espelho crítico da realidade.
Ao mesmo tempo em que insere uma dimensão afetiva ao explorar o vínculo entre um pai (Leonardo DiCaprio) e sua filha — sugerindo que a renovação de valores pode emergir das gerações futuras. Seu antagonista é um indomável militar, urdido de forma brilhante por Sean Penn.
Mesmo com uma minutagem que beiram as três horas, a obra é conduzida em ritmo frenético, e consegue ironizar o mito do “sonho americano”, o ridicularizando. Mais um ponto para Anderson, que sugere que os fantasmas do passado não apenas retornam, mas se reconfiguram em novas formas de dominação e contestação, ao desmontar idealizações e confrontar as ambiguidades do presente. Claro, espelhado no contexto norte-americano, sem recorrer a filtros e longe de uma romantização da realidade.