
Não se trata de sequência, remake, nem reboot. E só por isso já merece atenção. Em um mercado saturado de reciclagens, o diretor e roteirista Zach Cregger entrega “A Hora do Mal” (Weapons, 2025) como uma obra original que se recusa a fazer concessões. E depois do reconhecimento em Noites Brutais (2022), uma das melhores produções de horror dos últimos anos (e ainda subestimado), aqui ele firma seu nome no gênero com mais uma obra autoral.
Ele vem da comédia (estreou no cinema com uma ‘sessão da tarde’, Miss Março: A Garota da Capa, 2009) mas dirige como quem entende profundamente de onde vem o desconforto. Seu cinema não é construído em sustos, é sobre estranhamento. E talvez por isso funcione tão bem, ele escreve e dirige com uma liberdade criativa rara, que se traduz em riscos narrativos e estéticos pouco vistos no terror convencional, de grandes estúdios.
A Hora do Mal é melhor assistido sem nenhum conhecimento prévio. Parte da experiência está em ser tragado pelo desconhecido. O que posso dizer é que a premissa envolve um grupo de crianças que desaparece, literalmente, da noite para o dia. Mas o filme é maior do que sua sinopse. Ele é sobre atmosfera, construção e tensão que nos coloca em um espaço de dúvida e nos mantém ali, até o fim.
A montagem não linear ajuda nisso. O tempo se dobra, se distorce, e você precisa acompanhar sem saber onde pisa. Cregger claramente domina o jogo e não está nem um pouco interessado em explicar tudo. Aliás, o que mais admiro aqui é isso, o filme não tenta se justificar. Ele abraça sua estranheza e faz com que você abrace junto.
Se Noites Brutais (2022) era uma surpresa, A Hora do Mal é uma afirmação. Zach Cregger tem voz e visão únicas, e está construindo uma carreira que merece ser acompanhada de perto. Dito isso, vá ao cinema com a mente aberta. O terror aqui é de desconforto lento, mas com uma conclusão que vira a cabeça do avesso e fica ali, ecoando mesmo depois que as luzes se acendem.
