Vencedor da categoria Melhor Trilha Sonora em Média-Metragem do OFF Pocket 2022, festival amazônico de cinema ocorrido nos dias 21 e 22 de outubro, o documentário cearense “Tereza e Bruno” será lançado oficialmente em Fortaleza no dia 15 de novembro. A exibição acontecerá no Cineteatro São Luiz, uma das salas mais tradicionais do estado. A entrada será gratuita.
A apresentação ao público cearense acontecerá após o filme compor o Pupila Film Festival, ocorrido em Olinda (PE) de 20 a 25 últimos. A película também foi selecionada para o Brazil New Visions Film Fest, que acontece de 26 a 31 de outubro em Camaragibe (PE). A produção acumula, portanto, três festivais e um prêmio antes mesmo do lançamento oficial.
Dirigido e roteirizado pela cineasta Rosane Gurgel, o documentário retrata a vida de Tereza de Castro Brito, de 94 anos, que desde 2017 convive com sequelas insuperáveis de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e recebe os cuidados do filho, o jornalista Bruno de Castro. A inversão de papéis ocasionada pela velhice e pela nova condição da mulher virou o livro “E, no princípio, ela veio: crônicas de memória e amor” (Editora Moinhos), escrito por Bruno e que em 2020 foi finalista do mais importante e tradicional prêmio de literatura do Brasil. Também já foi retratada em bordado, charge, pintura e adaptação para teatro antes de chegar ao cinema.
Para ganhar agora a telona, o filme foi gravado na casa de Tereza, no bairro João XXIII, periferia de Fortaleza, em novembro de 2020, quando a cidade atravessava o entrepico de contaminação do novo coronavírus (Covid-19) e os casos estavam em baixa. A simples possibilidade de contaminação exigiu da equipe envolvida na produção cuidado redobrado na captação de imagens, já que a personagem principal da película fazia parte do grupo de maior risco de contração da doença e à época sequer existia vacina.
“Quando a Rosane me apresentou a proposta do filme, nós vivemos um dilema porque o risco da Covid, apesar de baixo, existia e seria fatal pra uma mulher como a mamãe. Ao mesmo tempo, eu tinha receio de, mesmo sem pegar Covid, ela vir a falecer, porque esse risco é real, diante da situação dela. Aí, nós não conseguiríamos gravar e eu perderia a chance de homenageá-la mais uma vez em vida. Aceitei o convite da Rosane e nós definimos uma série de medidas de segurança, como uso de máscaras, equipe reduzida, testagem de todos os membros e distanciamento completo da mamãe. Dois ou três dias depois, nós rodamos as cenas”, recorda Bruno.

Foram dois dias de gravação, e 18 horas de filmagem ao todo. Tudo isso tendo que ser condensado nos 19 minutos de um documentário cuja trilha sonora, reconhecida como a melhor do OFF Pocket, precisou ser composta do zero. O trabalho é assinado pelo produtor musical Jean Nands. “A Tereza já tinha uma relação com as canções do Luiz Gonzaga; aquele forró antigo, melodioso. Então, esse foi nosso ponto de partida para preservarmos as origens sertanejas dela, ressaltando uma história que é marcada por amor e dor, dada a condição dela atual”, explica o editor do filme, Helton Vilar.
No OFF Pocket, o documentário cearense foi indicado a outras três importantes categorias: Melhor Média-Metragem Nacional, Melhor Roteiro em Média-Metragem e Melhor Direção em Média-Metragem. “O “Tereza e Bruno” foi dos poucos documentários que eu fiz e me emocionei durante a produção. A história de amor deles dois é muito bonita. A gente sente uma verdade muito forte quando ele fala dela, mesmo quando se refere aos momentos mais dolorosos e nada românticos de tudo o que se tem vivido desde o AVC. É um documentário que eu tenho certeza de que vai tocar muita gente.”, diz Rosane Gurgel.
UM ALERTA
Causa da reviravolta na vida de Tereza e Bruno, o AVC mata uma pessoa a cada cinco minutos no Brasil. E deixa pelo menos 300 mil pessoas no país por ano com sequelas temporárias ou definitivas. Isso faz da realidade da dupla algo comum a muitos lares. Gente que, como o jovem jornalista, não estava preparada para lidar com uma realidade tão diferente do que se vivia até o AVC acontecer. É, portanto, um tema urgente a ser pautado, assim como a responsabilidade afetiva de filhos com mães e pais diante das consequências do fenômeno.
“Do emocional ao financeiro, tudo é muito avassalador. A vida vira de cabeça pra baixo e não te dá tempo de se adaptar. Você faz tudo com os dias correndo, as necessidades da pessoa ali, na tua frente, e você precisando ser de tudo um pouco: médico, enfermeiro, fisioterapeuta… É bem cruel. Mas o filme da Rosane mostra que, apesar disso tudo, é possível atravessar essa fase mantendo o amor, sem abandonos. Minha mãe é a minha joia mais preciosa e eu vou com ela até o fim”, acrescenta Bruno de Castro.
Tereza e Bruno (2022) | SINOPSE: Bruno está no começo da vida; Tereza, no final. Mãe e filho são um afeto que transcende o tempo e reclina o silêncio. Devoção aos detalhes, às memórias. Confissões e dor. São cuidado e carinho sem pressa. Ela o gestou nos afetos e na vida quando ele era garotinho. Hoje, adulto, ele acolhe o fim da vida de quem o ensinou a andar. Juntos, eles caminham no amor.
EQUIPE TÉCNICA
Direção e roteiro: Rosane Gurgel
Fotografia, edição e montagem: Helton Vilar
Produção: Rosane Gurgel e Danielle Falcão
Som: Fábio Xavier
Trilha sonora original: Jean Nands
Produtora: Comunik Filmes.